sexta-feira, 17 de agosto de 2018

RAP TAMBÉM É ARTE E CULTURA - Atualidades

O termo rap foi criado nos Estados Unidos, sendo esta uma abreviação para Rhythm And Poetry (ritmo e poesia). É um gênero musical que nasceu entre negros, sua principal característica é ritmo acelerado e pela melodia bastante singular. As letras, em geral, tratavam sobre as questões que faziam parte do cotidiano da comunidade negra norte-americana, as músicas apresentavam gírias que eram usadas nos guetos das grandes cidades.
Entretanto, o primeiro aparecimento do rap foi na Jamaica. Aproximadamente na década de 60 quando surgiram os “Sound Systems“, grupos de música que apresentavam-se nos guetos jamaicanos para animar bailes. Esses bailes serviam de fundo para o discurso, no qual, colocam na música assuntos como a violência das favelas de Kingston e a situação política da Ilha, adotando inclusive temas que abordavam sexo e drogas.
No começo da década de 70, muitos jovens jamaicanos foram obrigados a emigrar para os EUA, como consequência de uma crise econômica e social que acontecia na ilha naquele período. Dentre os emigrantes estava o DJ jamaicano Kool Herc. Ele foi responsável por introduzir em Nova oYrque a tradição dos “Sound Systems” e do canto falado, o que mais tarde passaria a se chamar de rap.
As primeiras músicas de rap foram gravadas em um disco de vinil e distribuída para o grande mercado consumidor somente por volta de 1978. O disco apresentava a mais famosa canção da época: “King Tim III” da banda Fatback, em que o título da música faz referencia ao vocalista da banda Tim Washington.
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The Fatback Band gravaram a primeira música de hip hop na história
Em Nova Yorque, durante os anos 70, seu surgimento se dava em meio à uma cidade violenta em que os conflitos raciais eram constantes. Entretanto, o a música impôs a discussão sobre a questão negra nesse mesmo período, além dos movimentos pacíficos pelos direitos civis de Marti Luther King até a militância armada dos Panteras Negras.
O rap também é feito no Brasil
Com interferência das equipes de baile, das revistas e dos discos que eram vendidos na rua 24 de maio em São Paulo, o Hip-Hop chegou no Brasil no início da década de 80. Os pioneiros do movimento, que inicialmente dançavam o Break, foram Nelson Triunfo, depois Thaíde & DJ Hum, MC/DJ Jack, Os Metralhas, Racionais MC’s, Os Jabaquara Breakers, Os Gêmeos e muitos outros. Eles dançavam na Rua 24 de Maio, mas foram perseguidos por lojistas e policiais; depois foram para a São Bento e lá se fixaram. Houve um período de divisão entre os breakers e os rappers, os primeiros continuaram na São Bento, os outros foram para a Praça Roosevelt.
Em 1988 foi lançado o primeiro registro fonográfico de rap nacional, a coletânea “Hip-Hop Cultura de Rua” pela gravadora Eldorado. Desta coletânea participaram Thaide & DJ Hum, MC/DJ Jack, Código 13 e outros grupos iniciantes.
O debate se intensificou após a projeção do grupo americano Public Enemy, na segunda metade dos anos 80. Os clipes mostraram um novo mundo de ideias para os rappers brasileiros e os grupos como Racionais e DMN têm Chuca D&Cia. eram a influência maior. Os ícones Malcolm X e Martin Luther King também tornou-se base para os apreciadores do daquela arte musical norte-americana.
Para muitos, tudo aquilo que acontece no cotidiano nas periferias das grandes metrópoles brasileiras pode ser hostil e feio. Entretanto, a cultura funk e rap fazem o uso dos problemas encontrados no seu dia a dia para transformar em arte. A cultura da periferia e dos morros se espalha em forma de arte com músicas, bandas, bailes, gírias e sinais. Para o estudante que gosta de rap, Vinícius Santos, 22 anos, o que acontece na favela está “invisível a maior parte do tempo, esse mundo só chama a atenção no momento em que deixa de ser dança e música e se torna violência. Aí como caso de polícia, vira manchete”. Vinicius também gosta de frequentar a Paulista para participar das batalhas de rap que acontecem na avenida.
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MC Soffia em show na Avenida Paulista. (Foto: Gabriela Zavarizzi)
Eles são jovens, negros e pobres. Muitas vezes não são enxergados pelas autoridades do País, pois são marginalizados em grande parte do tempo. Estão todos do outro lado do espelho do Brasil oficial. “Quando a gente aparece, sinto que quem está lá fica esperando confusão, briga e uso de drogas. Mas só queremos curtir um som”, diz Lucas Ribeiro, ele é o “MC Lukinha” de 19 anos, e é assim que gosta de ser chamado durante as disputas de rap na Avenida Paulista. Tanto a dança quanto a música, é capaz de mobilizar os corações e mentes dos jovens dos morros e subúrbios.
Faz parte da realidade de alguns jovens da periferia que o cenário seja feio, humilde e violento. Mas mesmo com toda a dificuldade, que alguns enfrentam, de ter que trabalhar, estudar e ajudar a sustentar a família, conseguem trazer para a música ao mesmo tempo alegria e indignação. Para Alison Campos, morador de Osasco e com 19 anos, sua maior ídolo é o rapper brasileiro e cantor de MPB, Criolo, pois para ele “o Criolo consegue passar através da música o que a gente da favela sofre. Mas ele escreve sobre amor e isso é legal porque já inclusive cantou com a Ivete Sangalo as músicas do Tim Maia, isso mostra que nossas arte não fala só de violência e drogas”.
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Criolo e Ivete Sangalo homenagearam Tim Maia (Foto: Divulgação)
Na cidade de São Paulo, os grupos de rap chegam a centenas, e os bailes reúnem dezenas de milhares de jovens. Para Lorena Dantas, estudante de letras aos 24 anos, “a galera da periferia não tem dinheiro nem frequentou boas escolas. Assim, a gente consegue incomodar as pessoas, que pode parecer estranho pra alguns, mas com o nosso som conseguimos ser ouvidos pelo menos um pouco”.
Os rappers desejam mostrar para toda sociedade que na periferia eles não se drogam, não trabalham para o tráfico e ganham dinheiro honestamente. Mas diferentemente daqueles que possuem poder aquisitivo, esses jovens tentam através dos versos longos e insubordinados do rap, juntamente com a dança break, o grafite nos muros e a união em galeras para se defender de uma sociedade preconceituosa e estratificadora.
Lugar de mulher também é no rap
Dentro do mundo da música os homens sempre têm mais espaço que as mulheres e isso não seria diferente dentro do rap. Para participar deste movimento artístico elas precisam enfrentar o machismo dos rappers, dos fãs e da sociedade em geral. Para alguns, “isso não é coisa de mulher”. Entretanto existem mulheres que foram importantes para o rap ao decorrer da história, mas que não são lembradas e/ou tiveram espaço espaço no meio da música assim como qualquer outro rapper masculino. É bem mais fácil encontrar pessoas que conheçam o grupo Racionais MC’S do que alguém que saiba quem foi ou conheça as músicas de Dina Di.
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Karol Conka representa rappers femininas 
Existem músicos do rap que escrevem sobre a vida de uma mulher, criando esteriótipos em cima de esteriótipos já existentes. Para Victoria Maiello, 18, fã da cantora Karol Conka, “um rapper pode escrever sobre a vida de uma mulher ou para uma mulher, mas ele jamais saberá o que cada uma de nós passamos. Acho que assim, ele não irá retratar a verdade na música dele”, adverte. Victoria acredita que para que uma mudança ocorra, é necessário que mais mulheres comecem a fazer rap sem medo do preconceito que os outros irão ter, bem como lutar para continuar ganhando espaço nesse meio e na mídia para sua divulgação, assim como, relatar a dificuldade que passam as mulheres da periferia.

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