quinta-feira, 7 de junho de 2018

Frida Kahlo

O Surrealismo de Frida Kahlo




Dona de um estilo diferente e de roupas com estampas marcantes, Frida Kahlo era facilmente considerada uma mulher a frente de seu tempo e  que fez da arte um meio de escapar das tragédias que cobriam sua vida.

‘Frida Perna de Pau’, como era chamada por conta de uma grave sequela no pé esquerdo causada por uma poliomielite, tinha como principal ingrediente de suas magnificas pinturas a dor física e emocional sempre presente em sua vida. 

Antes de descobrir que queria seguir a carreira de pintora, Frida tinha a certeza de que seu futuro como médica já estava sendo traçado. Foi em 1925 que tudo realmente mudou. Vitima de um acidente envolvendo um bondinho, Frida teve grandes fraturas pelo corpo, fazendo com que ficasse presa em uma cama, castigada por uma crônica complicação na coluna. Foi nesse período que Frida se viu cara a cara com seu único meio de expressar suas angustias: a arte. Com um espelho e muita força de vontade, passou a pintar autorretratos, o que acabou se tornando de vez a sua marca registrada.

O surrealismo é muito presente em suas obras, usado para expressar sua realidade. Podemos notar isso de forma clara no famoso quadro ‘The Wounded Deer’, de 1946.  






Frida retrata sua própria cabeça no corpo de um frágil cervo gravemente ferido por flechas. O fundo é composto por uma floresta e passa a sensação de medo e solidão, dando a impressão de que o cervo nunca conseguira sair dali em direção ao horizonte. 

Frida pintou esse quadro em um dos momentos mais tristes de sua vida, em que viajou para Nova York e foi submetida a uma cirurgia na coluna. Ela estava certa de que a operação faria com que ficasse totalmente livre das dores, mas não foi isso que aconteceu, pois a cirurgia falhou. Frida voltou para o México e mergulhou na depressão, vendo sua vida definitivamente tomada pela dor. Frida se autorretratou da forma mais frágil possível, da mesma forma que se sentia. A artista chegou a declarar: “Eu nunca pinto sonhos ou pesadelos. Pinto a minha própria realidade”. 

Depois de uma vida inteira de dor e sofrimento, Frida faleceu no dia 13 de julho de 1954. A artista continuou sendo um ícone artístico mesmo depois de sua morte, deixando suas obras para servirem de inspiração para muitos outros artistas ao redor do mundo.

No dia 27 de Setembro, a exposição “Frida Kahlo, conexões entre mulheres surrealistas mexicanas” chega a São Paulo e será exposta no Instituto Tomie Ohtake. A exposição também conta com obras de Maria Izquierdo, Remedios Varo e Lenora Carrington.







sexta-feira, 1 de junho de 2018




Após greve dos caminhoneiros, Temer se reúne com Pedro Parente


Presidente da Petrobras foi até o Palácio do Planalto para encontro. Política de preços da estatal foi um dos principais alvos durante crise causada pela paralisação dos caminhoneiros.


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O presidente Michel Temer recebeu na manhã desta sexta-feira (1º) o presidente da Petrobras, Pedro Parente, para uma reunião no Palácio do Planalto, em Brasília.
O encontro ocorre em meio aos efeitos da paralisação dos caminhoneiros, que causou uma crise no abastecimento de combustíveis, alimentos e outros produtos no país.
Entre as principais reivindicações dos caminhoneiros estava o preço do combustível. A política de preços da Petrobras foi um dos alvos principais dos manifestantes. O presidente da estatal declarou, em mais de uma ocasião, que não mexeria em tal política.
Durante a semana, o próprio Temer chegou a afirmar que poderia examinar mudanças na política de preços da companhia. Depois, o Planalto divulgou nota oficial na qual afirmou que vai "preservar" a política de preços.
No acordo para encerrar a greve dos caminhoneiros, o governo adotou medidas para reduzir em R$ 0,46 o preço do litro do óleo diesel nas refinarias. O valor ficará sem reajuste por 60 dias e, após, será reavaliado a cada mês. Ficou acertado que a União vai compensar eventuais prejuízos da Petrobras.
Para viabilizar a redução do litro do combustível, o governo decidiu acabar com benefícios para a indústria química, quase eliminar incentivos para exportadores e cancelar parte de gastos de uma série de programas públicos.
O subsídio para o preço do diesel custará R$ 9,58 bilhões e equivale a uma redução de R$ 0,30 no preço do litro do combustível. Para conceder o desconto adicional de R$ 0,16, o governo contou com a reoneração da folha de pagamentos, já aprovada pelo Congresso Nacional.

Novidades sobre a gravação da nova série brasileira 3%

Na série ‘3%’, o rico Maralto fica em Inhotim e o Continente, ao lado do Templo de Salomão




Nesta 2ª temporada, que estreia no próximo dia 27, o Museu de Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, abrigou boa parte das gravações das cenas referentes ao Maralto, lugar bacana para o qual apenas 3% das pessoas têm o direito de viver, após serem submetidas ao Processo, uma rigorosa gincana cujo fracasso pode ser pago com a própria vida. Isso foi antes que o criador e titular do museu, Bernardo Paz, fosse condenado à prisão por lavagem de dinheiro, pelas fraudes financeiras de que foi acusado.
O TelePadi não foi a Inhotim. Teve sua sorte selada em cenário mais complexo e popular, o Continente, onde vive, afinal, 93% da população desse mundo distópico criado pelo jovem roteirista Pedro Aguilera. E o Continente fica ali no Brás, em uma grande fábrica desativada, cuja vizinhança é sufocada pelos altos muros do Templo de Salomão, a matriz da Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo.
Mas esta é uma informação de bastidor. É evidente que não se verá um triz do templo em “3%”, cujas gravações na fábrica foram todas protegidas por adereços e ângulos das câmeras. Produtor da série, pela Boutique Filmes, Tiago Mello faz um tour com o pequeno grupo de jornalistas convidado a visitar aquele set, incluindo esta que vos escreve, e conta que o local abre possibilidade para vários cenários. Explica, por A + B, todo o trabalho de “maquiagem” feito em janelas de vidros, colunas e até piso, para dar ao Continente o aspecto que se espera dele.
Reciclagem e objetos largados por aí, como televisores de tubo em frangalhos, foram úteis à decoração do pedaço, mas é preciso dizer que a equipe encontrou toda a base do Continente praticamente pronta na referida locação.
Joana e ‘A Causa’, em gravação na fábrica desativada que abrigou a equipe por vários dias, no Brás, São Paulo
Mais alguns minutos, e vamos encontrar alguns dos atores da série. Você só reconhecerá Fernanda Vasconcellos, por exemplo, novo nome na série, por meio de sua voz. Agora loira, de cabelos bem curtinhos, ela está irreconhecível.
“Esses personagens desencadeiam novidades para a trama. Elas se complementam. Isso faz parte do desenrolar da história, bacana é ser surpresa”, adianta, muito entre dedos, a atriz. Quando lhe perguntam como é trocar uma empresa em que trabalhava para atender a sucessivas escalações de elenco, sem muita manobra de escolha (a Globo) e a possibilidade de escolher o que fazer, como ocorre agora com a Netflix, onde tem contrato só por obra definida, ela não se esquiva: “No meu ponto de vista, foi uma escolha. Trata-se de uma empresa que trabalha com a diversidade de conteúdos, isso aumenta a minha liberdade criativa, você não fica preso a responder a um ibope, e sim a uma qualidade artística, focada na diversidade.”
E completou: “Todos os personagens da série não são o que parecem ser e em algum momento eles vão se confrontar com o seu próprio padrão moral, isso é bem interessante, é nebulosa, essa linha entre o bem e o mal, como na vida, se confrontando com o que você acredita ser um padrão moral.”
Outros atores se empenharam em preparação física que inclui artes marciais, manuseio de facões e até aulas de tiro.

Tudo sobre Inhotim

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE INHOTIM



Localizado em Brumadinho, a cerca de 60 km de Belo Horizonte, o Instituto Inhotim é um imenso complexo cultural misto de Jardim Botânico e Centro de Arte Contemporânea. Siga nossas dicas e prepare sua viagem para conhecer o maior museu a céu aberto do mundo.


Vista aérea de Inhotim (Foto: Marcelo Coelho)



HISTÓRIA
Em meados da década de 1980, o empresário mineiro Bernardo de Mello Paz resolveu transformar sua propriedade de quase 1 mil hectares (equivalente a cerca de cem campos de futebol) em um museu a céu aberto. Depois de mais de 20 anos, em 2002, é fundado o Instituto Inhotim, uma instituição sem fins lucrativos, destinada à conservação, exposição e produção de trabalhos contemporâneos de arte e que desenvolve ações educativas e sociais. Após alguns anos funcionando somente com visitas pré-agendadas, em 2006 o Inhotim é aberto ao grande público. E que público! Cerca de 360 mil pessoas visitaram Inhotim em 2013. E desde sua inauguração o Instituto já recebeu mais de 1,5 milhão de pessoas.
JARDIM BOTÂNICO
Em 2010, o instituto recebeu a denominação de Jardim Botânico, atribuída pela Comissão Nacional de Jardins Botânicos (CNJB), e, desde então, integra a Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RNJB). Os jardins do parque contam com cerca de 181 famílias botânicas, 953 gêneros e pouco mais de 4.200 espécies, sendo 1.400 só de palmeiras! É a maior coleção em número de espécies de plantas vivas entre os jardins botânicos brasileiros.
ACERVO
Pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e instalações de mais de 100 renomados artistas brasileiros e internacionais, de 30 países, formam a coleção do complexo. O acervo é composto por cerca de 700 obras, mas “apenas” 170 trabalhos se encontram em exposição atualmente. Produzidas desde os anos 1960 até os dias atuais, as obras estão dispostas ao ar livre no Jardim Botânico do Inhotim ou exibidas em galerias.
Esculturas em bronze de Edgard de Souza (Foto: Rossana Magri)




















GALERIAS

Dos 22 pavilhões, quatro são dedicados a exposições temporárias: caso das galerias Lago, Fonte, Praça e Mata. A cada dois anos esses espaços ganham uma nova mostra para apresentar aquisições do instituto e criar reinterpretações da coleção. Já as outras 18 galerias são permanentes, ou seja, foram desenvolvidas para receber obras de um artista específico, como Tunga, Adriana Varejão, Cildo Meireles, Doug Aitken, Hélio Oiticica & Neville d’Almeida, Matthew Barney e Lygia Pape.
NOVOS PROJETOS
Está em construção, atualmente, a Galeria Claudia Andujar, dedicada às fotografias da artista, e o Hotel Inhotim, projetado pela arquiteta mineira Freusa Zechmeister, que contará com 44 quartos de 100 m² cada um. 
DICAS GERAIS
1 | Prepare-se para andar bastante! A escolha de roupas e sapatos confortáveis é fundamental.
2 | Chegue cedo.
3 | Faça o download do mapa do instituto e pesquise no site sobre as obras que você tem interesse para definir quais trilhas pegar e tentar formar um caminho antes começar a visita. Mas não se esqueça de pegar o mapa físico na entrada do complexo.
4 | Entre uma obra outra, aproveite o caminho: passeie com calma, só os jardins do parque já valem a visita.
5 | É impossível ver tudo em um só dia. Se possível, reserve pelo menos dois dias inteiros de visitação.
6 | Quem faz a compra pela internet retira os ingressos em um guichê exclusivo, evitando filas maiores.

O designer Hugo França reaproveita resíduos florestais para a produção de esculturas mobiliárias únicas, como bancos e cadeiras. (Foto: Rossana Magri)





















DE CARONA

Para quem quer ganhar tempo entre uma galeria e outra ou se cansou com a caminhada pelos 110 hectares da área de visitação, o parque oferece um serviço de transporte interno com carrinhos elétricos por rotas pré-determinadas pelo valor de R$ 20.
SEPARE UMA ROUPA DE BANHO
Existem duas piscinas-instalaçōes no complexo: uma coberta, dentro do pavilhão Cosmococa, de Hélio Oiticica e Neville D'Almeida; e outra externa, criada pelo artista Jorge Macchi. Ambas são interativas, ou seja, você pode nadar! O Instituto disponibiliza toalhas, vestiários e salva-vidas, só não se esqueça de levar uma roupa de banho.
O jardim de Inhotim tem a maior coleção em número de espécies de plantas vivas entre os jardins botânicos brasileiros (Foto: Ricardo Mallaco)





















VISITAS TEMÁTICAS

O parque organiza quatro visitas guiadas com roteiros específicos. A de arte – que acontece aos sábados, domingos e feriados, às 15h, com 1 hora de duração – propõe uma discussão sobre artistas e obras de arte do acervo. Já a visita com temática ambiental – aos sábados e domingos, às 10h30 e às 14h30, ambas com duração de 1h30 – permite transitar pelos jardins, conhecer parte da coleção botânica e apreciar outros elementos que compõem o espaço. A visita panorâmica – de terça a domingo e feriados, às 11 e às 14 horas, com 1h30 de duração – proporciona uma visão geral sobre a dinâmica do Inhotim. E a visita ao Viveiro Educador – aos sábados e domingos, às 11h30 e 15h30, com 1h de duração – é um passeio pelo espaço de 25 mil m² para uma conversa e reflexão sobre plantas de diversas partes do mundo.
ONDE COMER
É proibido entrar com bebidas alcoólicas e alimentos em geral. Mas quem visita o Inhotim conta com três opções de restaurantes dentro do parque: Tamboril (opção de buffet e serviço à la carte), Bar do Ganso (opção de buffet e serviço à la carte) e Oiticica (Buffet por quilo). Para lanches, as opções são o Café do Teatro (bebidas quentes e geladas, sanduíches, pães e bolos artesanais) e as lanchonetes das Galerias Fonte e True Rouge (com opções de salgados e sanduíches).
Informações adicionais:
Rua B, 20, Brumadinho, MG, Brasil.
Tel. (31) 3571-9700
Aberto de terça a sexta-feira, das 9h30 às 16h30. Sábado, domingo e feriados, das 9h30 às 17h30.
Ingressos: terça-feira (exceto feriado): entrada gratuita. Quarta e quinta-feira: R$ 20. Sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30. 

Direitos Humanos

O que são direitos humanos e por que há quem acredite que seu propósito é a defesa de 'bandidos'?

 


Crianças lendo Declaração Universal dos Direitos Humanos, pouco após sua adoção


Na semana passada, o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) fez com que brasileiros debatessem o que significam exatamente os direitos pelos quais ela lutava, gerando acaloradas discussões online.
De um lado, aqueles que lamentavam a perda de uma política ativa na defesa dos negros, dos homossexuais e dos moradores de comunidades carentes, e do outro insinuações de que como defensora dos direitos humanos ela "defendia bandidos" e que isso poderia ter uma relação com seu assassinato.
Mas afinal, o que são direitos humanos? Defender os direitos humanos é defender bandidos? E há razões para o conceito ser comumente relacionado a determinados grupos políticos?
Direitos humanos são os direitos básicos de todos os seres humanos, como, simplesmente, o direito à vida. Mas estão incluídos neles também o direito à moradia, à saúde, à liberdade e à educação.
"São muitos direitos - civis e políticos, como o direito ao voto, à liberdade. E o direito ao devido processo legal", diz a advogada especialista em direitos humanos Joana Zylbersztajn, doutora em direito constitucional pela USP e consultora da Comissão Intramericana de Direitos Humanos na OEA (Organização dos Estados Americanos).
Para Maira Zapater, professora de Direito Penal da FGV e doutora em Direitos Humanos pela USP, "a democracia é praticamente sinônimo dos direitos humanos".
"A escolha do representante se dá pelo método da maioria. Para que essa escolha aconteça, há diversas premissas: o direito ao voto, por exemplo, e que as minorias tenham seus direitos resguardados", afirma. "É o único regime em que é possível assegurar os direitos humanos."

Direitos e impunidade

Uma pesquisa realizada pelo Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2016, apontou que 57% da população de grandes cidades brasileiras concorda com a frase "bandido bom é bandido morto". Na prática, a afirmação é uma violação aos direitos humanos. Significa que mais da metade da população de grandes cidades defende a justiça feita pelas próprias mãos, atropelando o devido processo penal do Estado democrático de direito e defendendo o fim da vida de alguém, ou seja, violando o princípio mais básico dos direitos humanos: o direito à vida.
Zylbersztajn lembra que "uma pessoa que comete crime tem direito à defesa, ao devido processo legal, e que cumpra pena à qual ela foi julgada".
"Os direitos humanos não vão garantir impunidade, vão garantir que a pessoa tenha defesa, tenha um processo justo. Isso é difícil de entender, às vezes", diz, citando os sentimentos de "vingança", de "não querer que criminosos tenham direitos protegidos".

Marielle Franco fala na Câmara do Rio

"É natural para o ser humano sentir isso. Mas o Estado não pode oficializar o direito de vingança."
A proteção dos direitos humanos de criminosos garante que os direitos humanos sejam universais.
"Criminosos também têm esses direitos, o que não tira sua responsabilidade pelos crimes que cometeram. Eles têm direito à vida, de não ser torturados. Direitos humanos são de todos", diz Rogério Sottili, diretor-executivo do Instituto Vladmir Herzog que foi secretário nacional de Direitos Humanos nos governos Lula e Dilma Rousseff (PT).
Zylbersztajn cita um estudo da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República feito há dez anos que mostrou que a percepção negativa dos direitos humanos era algo muito mais "vociferado" do que de fato percebido dessa maneira pelas pessoas.
Ou seja, direitos humanos serem coisa de "bandido" seria muito mais um discurso do que uma crença verdadeira. Quando questionadas, as pessoas identificaram direitos básicos como o que são de fato: saúde e educação para todos, entre outros.

História

Não há consenso sobre a origem dos chamados direitos humanos. Estudiosos citam diversos momentos da história em que determinados direitos foram reivindicados ou garantidos por diferentes grupos. Mas há alguns momentos-chave citados pela maioria.
Filósofos da Idade Média e do início da Idade Moderna já falavam em seus livros que humanos tinham direitos fundamentais, explica à BBC Brasil o americano Samuel Moyn, professor de direito e história da Universidade Yale e autor do livro The Last Utopia: Human Rights in History (A Última Utopia: Direitos Humanos na História, em tradução livre).
Mas ele diz que só nas revoluções que levaram à independência dos Estados Unidos em 1776 e a Francesa, em 1789, normatizaram esse conceito.
Mais citado entre todos os especialistas, o documento que organizou e internacionalizou essas normas foi a Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948, da ONU, criada depois da Segunda Guerra Mundial.
"No Holocausto, não era uma verdade que todas as pessoas tinham os mesmos direitos por serem pessoas. Os homossexuais, os negros, os judeus eram considerados como não pessoas e, portanto, não tinham direito à vida. Pelo simples fato de serem quem eram, deveriam ser retirados da sociedade", diz Zapater.
"É com a Declaração Universal dos Direitos Humanos que surge a noção contemporânea de que determinados direitos não podem ser retirados das pessoas por ninguém sob qualquer pretexto", afirma. "Quando a pessoa é condenada por um crime, ela tem seu direito de ir e vir restringido, mas não perde outros direitos porque não deixou de ser uma pessoa."

Disputa ideológica

Desde sua sistematização, porém, os direitos humanos sempre foram disputados por diferentes forças: a progressista, de um lado, e a conservadora de outro, por exemplo.

"Em todos os lugares, direitos humanos são usados para defender minorias. E em todos os lugares direitos humanos são então tratados retoricamente como um plano partidário", afirma Moyn.

Ele explica que a esquerda e a direita, como ideias, têm origem na Revolução Francesa, quando os direitos humanos estavam associados à redefinição de o que significava ser um cidadão moderno. "Muitas pessoas prefeririam viver em uma sociedade em que os direitos humanos não precisassem ser garantidos, porque interferem na hierarquia da sociedade", afirma.
No século 18, diz Zapater, surge o posicionamento de que o Estado não tem o direito de tirar a vida, de restringir a liberdade religiosa ou a de ir e vir. A defesa dessas liberdades era encampada pela direita em seu início. "Os liberais, que falam que o Estado não deve intervir, são aqueles que historicamente defendiam o direito à liberdade" - portanto, os que, no início, defendiam direitos humanos.
O papel do Estado na garantia dos direitos humanos divide, então, os campos ideológicos.
"A esquerda, alinhada com o marxismo do século 19 e 20, diz que o Estado tem sim que realizar intervenções porque o fato de as pessoas serem iguais perante a lei não quer dizer que vão ser iguais na prática. O Estado tem que assegurar os direitos, tais quais o direito à educação, tomando determinadas medidas."
Moyn diz que atualmente a revolução se dá de outra forma. "Hoje, os direitos humanos atraem uma nova forma de mobilização: não a revolução política, mas a informação sem violência e o ativismo legal", afirma.

O debate no Brasil

O debate sobre a expressão dos direitos humanos chega ao Brasil no fim da ditadura militar no país (1964-1985), quando se começa a denunciar a violação dos direitos dos presos políticos, segundo Zapater. A transição da ditadura para a democracia foi o período em que se discutiu as limitações do uso abusivo da força policial. Foi quando ativistas passaram a reivindicar a proteção aos direitos humanos dos presos políticos.
E os direitos fundamentais, da vida, das liberdades civis, segurança, o direito de não ser acusado de forma arbitrária, tudo isso foi incorporado à Constituição de 1988.
Como a defesa aos direitos humanos, porém, se tornou no Brasil e outros lugares sinônimo de defesa a "bandidos"?
Especialistas têm diferentes hipóteses para explicar o fenômeno.
Na visão do sociólogo Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, e de Zapater, da FGV, essa associação se consolidou após o fim da ditadura.
Adorno diz que durante a transição, houve "uma verdadeira explosão de conflitos" no Brasil, "homicídios associados com quadrilhas que disputavam territórios no controle do crime organizado onde habitam trabalhadores de baixa renda e a polícia".
"Foi gerando a percepção que a democracia não era suficiente para conter a violência. Com isso, aqueles que eram herdeiros da ideia de que havia segurança na ditadura mobilizaram de maneira eficaz a ideia de que direitos humanos era para bandidos, e não para cidadãos."
A consolidação dessa associação teria se dado no fim dos anos 1980 e ao longo dos 1990.
Zapater cita o papel da imprensa sensacionalista como propagadora da mensagem. "Quando se tem a democratização em 1985, se libera uma série de programas (de TV) sensacionalistas, que exploram crime violentos com o discurso de que 'direitos humanos são direitos de bandidos', reformulando a ideia que já vinha se disseminando no senso comum nos anos 1970", diz.

Declaração Universal dos Direitos Humanos

A mensagem transmitida, segundo ela, era a seguinte: "Se os direitos dessa pessoa que roubou, matou ou estuprou não tivessem sido defendidos, ela não estaria em liberdade, não teria praticado esse crime". Apresentadores de programas de rádio sensacionalistas comumente se elegeram para cargos como de vereadores ou de prefeitos encampando esse discurso, lembra ela.
"Se elegeram falando: 'Vou colocar a Rota (grupo de operações especiais da Polícia Militar de São Paulo) na rua' para dizer 'aqui a gente não dá direitos humanos para bandido'", diz, citando frase notória do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, hoje preso em Brasília.
O discurso é convincente, segundo ela, porque explora o medo legítimo das pessoas. A ideia é: "Vou fazer o medo e a sua sensação de insegurança diminuir, perseguindo os bandidos".
"As pessoas não entendem que a garantia de seu direito à vida depende do direito à garantia à vida de todos, inclusive de quem é acusado de um crime. E que muitas vezes isso vai atingir quem não é acusado de crime."
Sottili, do Instituto Vladmir Herzog, também cita a mídia como causadora dessa percepção. "A mídia brasileira é muito elitista, e acaba produzindo uma visão que privilegia um olhar. Seu controle social estabelece que determinados grupos não devem ter direitos. Qualquer pessoa ou movimento que tente defendê-los são discriminados", afirma.

'Amadurecimento'

Mas, ao longo dos anos 1990 e 2000, observa Adorno, houve um "amadurecimento da militância dos direitos humanos" frente ao discurso vigente, que passou a tratar também "dos temas ligados à segurança e polícia, condenando o uso abusivo da força, mas dizendo que era preciso ter condições de trabalho adequadas aos policiais". Ou seja: articulando interesses sociais diferentes para "construir uma sociedade com controle legal da violência".
"Isso teve um impacto muito grande e confesso que até muito recentemente considerava essa questão de 'direitos humanos são para bandidos' como algo superado", desabafa.
Marielle Franco, por exemplo, foi assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, onde prestou auxílio jurídico e psicológico a familiares de vítimas de homicídio ou de policiais mortos.
"Com suas bandeiras, ela defendia muito mais nossos policiais do que nós fomos capazes de compreendê-lo e de fazê-lo", escreveu no Facebook o coronel Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar do Rio. Marielle contava ter ingressado na militância por direitos humanos depois que perdeu uma amiga vítima de bala perdida num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré, no Rio.
Questionado sobre as "prioridades" dos defensores de direitos humanos -acusados, muitas vezes, de defender direitos humanos de criminosos mais do que defendem direitos humanos de policiais-, Samuel Moyn, o professor da Yale especialista em direitos humanos, diz que "a situação normal é que a polícia receba muita atenção e as vítimas menos, então é natural que as organizações de direitos humanos procurem corrigir esse desequilíbrio". "Se a balança mudasse radicalmente, as organizações de direitos humanos seguiriam essa tendência", afirma.

Foto de Marielle Franco ao lado de pessoas que acendem velas e prestam homenagem à vereadora

Direitos humanos a quem, se poucos os têm?

Há outras hipóteses para a percepção negativa dos direitos humanos. Adorno, por exemplo, observa que a sociedade não conseguiu universalizar os direitos fundamentais e que isso teria aprofundado o desgaste em relação ao conceito.
"Nas democracias consolidadas, há um fundo de valores que é comum, como a vida, que é direito de todos", diz. "A nossa é uma sociedade que não se reconhece nos direitos universais. A classe média acha que os direitos que ela desfruta são prerrogativas enquanto mérito pessoal, de classe - e isso tem vem da história das sociedades modernas, tem a ver com o liberalismo, o individualismo."
Zylbersztajn tem opinião semelhante. Primeiro, ela diz achar que há um problema básico de comunicação. "Se as pessoas não entendem o que são direitos humanos, é porque não se está explicando direito", opina.
Ela também lembra que é difícil identificar os direitos humanos como universais se o Estado não os garante para todos. "O Estado democrático de direito não está presente na vida de todo mundo o tempo todo", diz. "A população não gosta de direitos humanos porque não se identifica como sujeito de direitos humanos. Mais do que isso, ela não identifica o que são direitos."
Para Sottili, uma questão central é que "a cultura da violência é base de todas as relações sociais" no Brasil. "Há pessoas que experimentam no seu dia a dia a discriminação, a subalternidade, o preconceito, a violência física."
Por outro lado, diz ele, quem tem uma "condição de vida razoável acha que seus direitos estão garantidos". "Pelo processo de privatização, ela garante seus direitos, estuda na melhor escola da cidade, tem direito à cultura porque paga por isso. A pessoa mais pobre depende da atuação do Estado."
Para Zapater, há quem não acredite na universalidade dos direitos humanos por causa do "preconceito racional e econômico que falam bem alto".
"Existe a ideia de que pessoas negras, periféricas, de classe econômica mais baixa estariam automaticamente associadas ao crime. Então garantir direitos humanos a essas pessoas significa garantir direitos humanos a bandido" - que também deveria ter seus direitos garantidos, de todo modo.

Soluções

Se a causa do problema é diferente na percepção de especialistas, a solução é unânime: educação.
De acordo com Sottili, "é preciso uma construção cultural, um processo de longo prazo. (...) Depois da redemocratização do Brasil, as políticas públicas foram muito intensificadas, mas não conseguiram promover uma mudança cultural que pudesse mudar a percepção dos direitos humanos. Uma cultura de 500 anos você não desconstrói em cinco, dez anos".
Zapater defende educação sobre direitos humanos desde o início, na escola, até a formação dos operadores de direito para que eles também conheçam melhor a questão.

Pop Art Pop Art é um movimento artístico que se caracteriza pela utilização de cores vivas e a alteração do formato das coisas. Muitas...